quarta-feira, 16 de setembro de 2009

ESTADO GARANTE TRATAMENTO A PORTADORES DE HEPATITES VIRAIS.

“Em São Paulo, a mãe de um amigo meu que tinha hepatite B teve que vender o imóvel para pagar o tratamento. Confesso que não teria condições de custear de forma alguma um medicamento como esse. É muito caro”. O depoimento é da professora aposentada Therezinha Camargo Lordello, 67 anos, e reflete bem a dificuldade enfrentada pelos brasileiros que têm hepatites C e B. Em Sergipe, a medicação é fornecida pelo Centro de Atenção à Saúde (Case).

Paulista, a professora Therezinha, que convive com hepatite C há cerca de dez anos, aguardava para ser atendida no Serviço de Hepatologia do Hospital Universitário (HU), única referência em hepatites para usuários do Sistema Único de Saúde (SUS) no estado. “Descobri a doença em 1999, mas de forma branda, e desde abril deste ano estou em tratamento”, disse a educadora, que contraiu a hepatite C através de uma transfusão de sangue.

Na última segunda-feira, 14, ela se submeteu à 21ª aplicação do Interferon Peguilado, uma das drogas utilizadas no tratamento da doença. Como dona Therezinha Lordello, somente em agosto, havia cadastrados no Case 18 pacientes sendo tratados com medicamentos para hepatites virais. No caso do Interferon Peguilado, cada injeção no mercado custa em torno de R$ 1,4 mil. “O tratamento completo, de 48 semanas (um ano), chega a custar R$ 70 mil, sendo um dos mais caros da medicina ambulatorial”, informou o coordenador geral do Case, Josias Passos.

O Interferon Peguilado é dispensado pelo órgão em quatro apresentações. “É uma medicação de compra centralizada, realizada através do Ministério da Saúde, que encaminha para o Centro de Atenção, de acordo com a programação feita pelo órgão a cada três meses”, explicou. Além deste, o Case também dispensa o medicamento convencional Alfa Interferona, indicado para a hepatite B e para a C, quando o genótipo é do nível três.

Tratamento

De acordo com a farmacêutica Andreza Bomfim, o paciente com Hepatite C (que não tenha o genótipo três) é submetido a tratamento com o Interferon Peguilado, inicialmente por 12 semanas. “Após esse prazo, é feito teste quantitativo para o HCV (o vírus da hepatite) para nova avaliação”, informou. O exame é realizado no Laboratório Central de Saúde Pública de Sergipe (Lacen). “Se o resultado for negativo, mantém-se a medicação até completar 48 semanas. No caso de positivo, o tratamento é interrompido, pois considera-se que o paciente não está reagindo à medicação”, esclareceu.

A farmacêutica explica ainda que, para o paciente com hepatite C ao qual é indicado o Interferon Peguilado, o Case também dispensa alguns antivirais, como a Ribavirina (comprimido) que, associada à medicação principal, já se mostrou a melhor opção para o controle da doença. A maioria dos pacientes é encaminhada à unidade após o diagnóstico, com tratamento acompanhado pelo Serviço de Hepatologia do HU, localizado na zona norte da capital, onde também são feitas biópsias de fígado.

A dispensação de medicamentos de uso contínuo e excepcional é preconizada na portaria 2.577, do Ministério de Saúde (MS), que regulamenta não apenas o uso, mas também estabelece quais as drogas se enquadram nesse perfil e as especifidades para sua utilização. Segundo Andreza Bomfim, para utilização do Interferon Peguilado, os pacientes são avaliados também a partir dos critérios estabelecidos por protocolos clínicos e diretrizes farmacêuticas de hepatites virais e crônicas C e B, estabelecidos na portaria MS 863, de 4 de novembro de 2002.

Números

Números do Grupo Otimismo de Apoio ao Portador de Hepatite, uma organização não governamental (ONG) sediada o Rio de Janeiro, indicam que no Brasil, em 2008, foram confirmados 10.708 casos de hepatite C e 15.546 do tipo B. Em Sergipe, segundo Áurea Dantas, responsável técnica pelo programa das hepatites da Secretaria de Estado da Saúde (SES), no ano passado, foram 450 casos confirmados. Os dados são do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan), do Ministério da Saúde. “Este ano, já registramos outros 409 casos, entre hepatite C e B”, acrescentou.

A hepatite C pode ser adquirida através de transfusão sanguínea, tatuagens, uso de drogas, piercings e em manicure. A grande maioria dos pacientes é assintomática no período agudo da doença, mas podem ser semelhantes aos das outras hepatites virais. A doença é considerada perigosa porque pode cronificar e provocar a cirrose hepática e o hepatocarcinoma, neoplasia maligna do fígado.

“O fato de a maior parte dos pacientes ser assintomática e 20% deles não estarem incluídos nos chamados grupos de risco são dois fatores que dificultam a identificação do portador da doença”, explicou o médico Alex Vianey Callado França, que coordena o Serviço de Hepatologia do HU e integra o Núcleo de Atenção Hospitalar da SES.

Segundo ele, além do paciente não saber que contraiu o vírus HCV, outro fator que dificulta a identificação dos portadores da hepatite C está relacionado ao desconhecimento dos profissionais que atuam na ponta do atendimento, ou seja, na rede básica de Saúde. “Daí a necessidade de se realizar capacitações frequentes, como a que foi realizada pela SES em parceria com o HU para mais de 200 médicos do Programa Saúde da Família (PSF), no último dia 9, no Hotel Quality, em Aracaju”.

A previsão é de que, até o final do ano, a capacitação seja realizada com profissionais de enfermagem. Para os próximos dias, o médico informou que serão executadas ações de prevenção à doença voltadas para as manicures de todo o estado. “São profissionais que, em suas atividades, utilizam instrumentos que não costumam ser esterilizados, a exemplo do alicate de unha. O ideal seria que cada cliente levasse seu próprio alicate, a fim de evitar o uso de material compartilhado”, recomendou.

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