sábado, 15 de agosto de 2009

OS RISCOS DA AUTOMEDICAÇÃO.

A decisão da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) de suspender temporariamente as propagandas de medicamentos contra a gripe em razão da elevação dos casos de gripe suína no Brasil levanta uma questão importante na área de saúde pública: a automedicação, uma prática muito comum no Brasil.

De acordo com a Anvisa, a suspensão é necessária porque esses medicamentos são capazes de mascarar os sintomas da gripe suína. No que concordam especialistas.

– Essa gripe é uma doença nova, com situações atípicas. Por isso, não me parece sensato tomar remédios que possam mascarar sintomas sem uma avaliação médica – diz Vera Lúcia Luiza, pesquisadora da Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp), da Fiocruz, que participa de um grupo de estudos sobre política de medicamentos no Brasil.

Foi justamente esta razão que levou a Anvisa a proibir propagandas de remédios com propriedades analgésicas e antitérmicas destinados ao alívio dos sintomas da gripe, tais como aqueles à base de paracetamol (como o Tylenol), dipirona sódica (Novalgina e outros), ibuprofeno e ácido acetilsalicílico (Aspirina e outros).

Indicador

– Momentos como esse exigem um cuidado maior. É preciso ver, por exemplo, como a febre evolui. Ela é um indicador importante para orientar o diagnóstico do médico sobre gripe suína. A propaganda não estimula este cuidado. Ao contrário, acaba induzindo o consumidor a tomar este tipo de medicamento ao primeiro sintoma – diz o diretor da Anvisa, Dirceu Barbano.

Segundo ele, a propaganda de remédios é o principal combustível para a automedicação.

– Se a propaganda não induzisse ao consumo, a indústria não investiria 20% de seu faturamento em publicidade de seus produtos – diz o diretor da Anvisa.

Para ele, além da indústria farmacêutica, as farmácias também têm um papel importante no estímulo à automedicação.

– Todos sabem que a situação mais comum é a prescrição de remédios no balcão das farmácias. Este setor deveria assumir a sua responsabilidade ética e sanitária – diz Dirceu Barbano, da Anvisa.

O cerco à automedicação no Brasil é uma preocupação da agência. Em junho, a Anvisa publicou outra resolução proibindo artistas de fazer fazer propaganda de remédios.

– Sabemos que a simples publicação de normas não vai resolver o problema. A solução requer uma série de fatores, inclusive quanto ao comportamento do consumidor – diz Barbano.

Segundo ele, o índice de automedicação no Brasil é muito alto e não só em relação a medicamentos que não requerem receita. O diretor da Anvisa diz que cerca de 50% dos antibióticos são vendidos sem receita médica no país. No caso dos anti-inflamatórios, este percentual chega a 60%.

Ele revela ainda outro dado preocupante: cerca de 25% dos casos de intoxicação provocadas por medicamentos estão relacionadas à automedicação.

O Hospital Pedro Ernesto, em Vila Isabel, lida com estes casos de intoxicação provocada pela automedicação.

– As pessoas se automedicam pensando nos benefícios, mas não sabem das consequências que os remédios podem causar – diz Andréa Silva, médica do Serviço de Alergia do Hospital Pedro Ernesto. – Até um simples analgésico para dor de cabeça pode ter efeitos colaterais. O ideal seria que toda medicação fosse indicada por um médico.

Segundo ela, existem reações graves, que podem até levar à morte.

– Uma reação mais intensa a um medicamento pode provocar um edema de laringe, dificultando a respiração – diz a médica.

Ela aprova a decisão da Anvisa de proibir a propaganda.

– Neste momento de epidemia, a pessoa pode ser levada a crer que estes remédios para os sintomas combatem a doença. Por isso, o controle é válido – diz.

A pesquisado da Escola Nacional de Saúde Pública da Fiocruz, Vera Lúcia Luiza, ressalva que a questão da automedicação não pode ser atribuída somente às propagandas.

– Me preocupa muito a oferta de atendimento médico. Muitas vezes, as pessoas não conseguem ir ao médico, por causa da precariedade ou da sobrecarga da rede pública de saúde. Então, para combater a automedicação, é importante garantir acesso mais fácil aos médicos – diz a pesquisadora.

Ela e seu grupo fizeram uma pesquisa em 2004, visitando 900 domicílios, procurando saber como as pessoas reagem em episódios de doenças agudas.

– Apenas 60% dos que tomaram medicamentos referiram ida ao médico – relata.

Fonte: Jornal do Brasil

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