quarta-feira, 10 de março de 2010

DEPUTADO VANDERLÊ RETOMA DISCUSSÃO SOBRE POSSÍVEL INSTALAÇÃO DE USINA NUCLEAR EM SERGIPE.

Foto:  Maria Odília


No grande expediente da sessão desta quarta-feira, 10, o deputado Professor Wanderlê (PMDB) reabriu a discussão sobre a instalação de usinas nucleares no Nordeste. Mais uma vez o parlamentar se posicionou contrário à proposta, bem como à retomada do projeto nuclear no Brasil e à proliferação de usinas no mundo. “Mas quero deixar claro que não tenho uma posição contrária ao governador Marcelo Déda”, afirmou.

Wanderlê explicou que é contra por uma questão mais ampla e a simples visita a uma usina nuclear – como aconteceu no último final de semana com uma comitiva sergipana liderada pelo governador que foi conhecer a usina de Angra dos Reis (RJ) – não é suficiente para se tomar uma posição contrária ou favorável à instalação de usinas. “Devemos ver as coisas de uma forma mais holística, não só vendo a instalação em Sergipe, mas também os problemas que pode causar”, disse.

O deputado lembrou que há algum tempo já vem trazendo o tema à tribuna da Assembleia Legislativa de Sergipe, por entender que é preciso ampliar o debate. Para ele, ninguém tem o direito de se fazer desconhecedor do tema, pois diz respeito à vida de cada um no presente e a de gerações futuras. Wanderlê lembrou que está tramitando na Casa dois requerimentos de sua autoria convidando dois físicos, o professor José Gutemberg e Luiz Pinguelli Rosa, para vir à Assembleia discutir o assunto.

Ele disse que para avaliar as questões econômicas ou de segurança de uma usina nuclear não se deve levar em conta apenas ela em si, mas todo ciclo de combustível nuclear. Ou seja, deve-se levar em conta – para se chegar a uma posição se é ou não favorável – o processo de extração de minério de urânio e outras partes do processo.

Durante seu pronunciamento, o deputado Professor Wanderlê exibiu uma reportagem veiculada no Bom Dia Brasil, falando das dificuldades enfrentadas pela população do município baiano de Caitité – de onde é retirado o minério de urânio utilizado para abastecer as usinas nucleares de Angra dos Reis –, onde várias fontes de água foram interditadas para o consumo humano, por estarem com altos teores de radiação. No ano passado, o deputado Wanderlê passou três dias na cidade de Caitité conversando com a população, que narrou os problemas decorrentes da extração do minério.

“Imagine que isso é para a extração de 400 toneladas para suprir as usinas de Angra I e II. Mas quando Angra III começar a funcionar, mais duas usinas no Nordeste essa atividade vai quadruplicar”, alertou. Wanderlê explicou que o minério de urânio extraído de Caitité é transportado para o porto da Bahia, de lá segue para o Canadá e para a Holanda, de onde segue de volta para o Rio de Janeiro, para o processamento. “É preciso se avaliar não só a usina, mas como a extração traz impactos ao meio ambiente e à vida dos seres humanos”.

O deputado propôs um requerimento convidando o padre Gino, pároco da cidade de Caitité, para que relate o que está acontecendo no município, bem como também o presidente da Indústrias Nucleares do Brasil (INB), Alfredo Trajan Filho, para fazer uma discussão aprofundada sobre o tema na Casa. “O tema urge ser discutido, porque, no final, vai ser esta Casa que vai ter que derrubar ou não o que está escrito na nossa Consituição Estadual, no artigo 235, parágrafo 8º, que proibe a instalação de usina nuclear”, disse.

Em seu discurso, Wanderlê disse que não se informa à população que as usinas nucleares têm um tempo de vida útil de até 30 anos e depois desse período o invetimento tem que ser lacrado. “Toda usina tem que ser concretada, todo material se transformando em lixo de alta radioatividade”, revelou, afirmando que nenhum país do mundo já fez esse trabalho como a ciência orienta e explicou os motivos pelos quais isso não ocorre, principalmente porque encareceria ainda mais este tipo de energia.

O deputado rebateu a informação de que a energia nuclear é a que mais cresce no mundo. “Pelo contrário, é a que percentualmente menos cresce. Até 2012 serão desativados 228 reatores comerciais porque atingiram seu tempo de vida útil, dos quais 20 nos Estados Unidos. Hoje, o mundo tem 439 reatores”, informou, dizendo que estão pedindo licença aos órgãos ambientais para ampliar o tempo de vida útil,o que pode comprometer a segurança dos geradores.

Apartes

O líder da oposição, deputado estadual Venâncio Fonseca (PP), disse que este é um tema bastante complexo e o conhecimento do deputado Wanderlê pode contribuir muito para este debate. “Não fique preocupado porque o governador Marcelo Déda sabe que o senhor não está contra ele, mas que está defendendo um projeto que tem seu entendimento”, disse, sugerindo que Wanderlê com os dados que tem sobre energia nuclear marque uma audiência com o governador para apresentá-los.

Já o deputado Arnaldo Bispo (DEM), que participou da comitiva que foi até a usina de Angra dos Reis, parabenizou o colega pelo pronunciamento e lamentou que ele, de posse de todas as informações apresentadas em plenário, não tenha participado da visita à usina nuclear, mesmo tendo sido convidado pelo governador. “Era uma oportunidade ímpar de discutir esta questãocom todas as autoridades que estavam lá”, disse. O democrata acrescentou que se for tomado um posicionamento de não usar nada radioativo a medicina estará acabada.

A deputada Susana Azevedo (PSC) reconheceu que o deputado Wanderlê é um estudioso do assunto e propôs que a Assembleia Legislativa convidasse físicos nucleares para discutir exaustivamente o assunto no Parlamento sergipano. “Isto é fundamental para que o povo sergipano possa se posicionar”, disse.

Ao final do pronunciamento do deputado Professor Wanderlê, o presidente Ulices Andrade (PDT) informou que também esteve na comitiva que no último final de semana visitou a usina nuclear de Angra dos Reis e admitiu que é preciso que se avalie o sofrimento do povo do sertão e que a situação dessa população só pode ser mudada com investimentos. Ele se declarou a favor da instalação de uma usina nuclear em Sergipe, pois traz modernidade para o Estado e os países do mundo desenvolvido utilizam energia nuclear.

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