Lamentavelmente, todos os dados apontam que o trânsito da capital está mais violento desde a interrupção do funcionamento dos equipamentos de fiscalização eletrônica, em abril deste ano. O Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) registrou um aumento de 50% no número de colisões entre veículos e de 33% nas ocorrências de atropelamentos, no comparativo entre o primeiro semestre deste ano e o mesmo período de 2010.
Criticados por alguns e defendidos por outros, é fato que os radares e fotosensores coíbem os abusos que acabam, muitas vezes, engrossando as estatísticas de acidentes e mortes. Para familiares de vítimas, principalmente, a fiscalização e a educação dos condutores são importantes aliados na garantia de um trânsito seguro.
Irmão do policial Wyldman Pinheiro Adam Filho, vítima fatal de um acidente registrado no último final de semana em Aracaju, o agente de segurança Wesley Souza Adam reconhece a necessidade e importância da fiscalização eletrônica. "É óbvio que os radares coíbem acidentes. As pessoas criticam, mas não se educam. Então para quê reclamar? A prevenção dos acidentes é uma questão de educação. Até que as pessoas se conscientizem, não vai ser apenas meu irmão, mais gente vai morrer", lamenta.
Wesley destaca que não é difícil presenciar atitudes imprudentes nas ruas e avenidas da capital. "As pessoas discutem no semáforo por uma bobagem. Muita gente é imprudente. Os exemplos estão aí. As pessoas devem se conscientizar, ter bom senso, e lembrar que a pressa é inimiga da perfeição", diz.
Comparativo
Até junho de 2011, 1.147 veículos colidiram em Aracaju e 340 pessoas foram atropeladas. Em todo o ano de 2010, foram 760 colisões e 340 atropelamentos. Da Energisa vem mais uma comprovação do aumento do índice de acidentes. Este ano, já foram trocados pela empresa 90 postes derrubados por veículos, sendo 37 deles entre os meses de abril e junho. No ano passado, neste mesmo período, foram 28.
O assessor de Comunicação da concessionária de energia, Augusto Aranha, informa que a maioria das ocorrências é registrada nos finais de semana, quando os abusos e a imprudência no trânsito aumentam. "Normalmente os casos aumentam muito nesse período", atesta.
Pontos críticos
Para o diretor de Trânsito da Superintendência Municipal de Transportes e Trânsito (SMTT), major Paulo Paiva, o trânsito da capital está menos seguro desde que os equipamentos de fiscalização eletrônica foram desligados. "Ao contrário do que muita gente pensou, a fluidez do trânsito não mudou, mas o excesso de velocidade é notório. Prova disso é o registro de acidentes graves em pontos onde eles não aconteciam há alguns anos", observa.
Paiva cita como exemplos dois trechos da avenida Beira Mar, uma das principais vias de escoamento do trânsito na capital. O primeiro está na curva do Iate Clube, no bairro São José, onde desde o desligamento dos radares três pessoas perderam a vida. O segundo, na região onde está localizado o Parque dos Cajueiros, no bairro Farolândia, onde foi registrado um grave acidente há duas semanas envolvendo três veículos e uma pedestre que foi atropelada. Nesses casos, a principal razão dos acidentes é o excesso de velocidade.
"Isso demonstra que os equipamentos modificam o comportamento dos condutores. A fiscalização eletrônica não abrange apenas a área onde os radares ficam instalados, mas muda a conduta em qualquer ponto", analisa Paiva. O diretor de trânsito da SMTT destaca que ainda assim há uma minoria que não respeita, e aí a multa é aplicada. "O auto de infração é necessário porque é algo didático e educativo. A punição existe, mas o resultado é imediato porque ela desmotiva a repetição desse comportamento ruim", pondera.
Vítimas
Outro dado que chama a atenção é que em Aracaju o motociclista é a principal vítima dos acidentes, diferente do que ocorre na maioria das cidades do país, onde o pedestre é quem mais sofre. Somente no primeiro trimestre deste ano, 17 das 24 vítimas fatais no trânsito de Aracaju eram motociclistas ou garupeiros.
"Em apenas uma década, o número de motos na capital mais que quadruplicou. Saímos de 12 mil motos e motonetas em 2000 para 50 mil em 2010, isso sem contar os ciclomotores, que não temos como acompanhar", diz o diretor de Trânsito da SMTT.
Paiva ressalta que as campanhas de educação conseguem sensibilizar a maioria, mas os maiores resultados virão com um esforço coletivo que envolve não só o poder público, mas o sistema educacional, a família, as igrejas e a própria sociedade. "A educação é solução para médio e longo prazo. A SMTT não fará isso sozinha. As pessoas devem se sentir responsáveis, todos devem ter essa consciência", explica.
Ações
Entre as iniciativas da Prefeitura de Aracaju, destaca-se o Comitê Municipal de Mobilização pela Saúde, Segurança e Paz no Trânsito, que reúne mais de 40 entidades trabalhando em parceria para combater os acidentes e mortes no trânsito. Para reforçar este trabalho, concretizado através da campanha ‘Chega de Acidentes', a SMTT contratou 50 orientadores de trânsito, que se somarão aos 72 agentes de que o órgão já dispõe.
A Superintendência Municipal de Transporte e Trânsito também deve intensificar nos próximos meses a campanha ‘Respeite a Faixa do Pedestre', além de iniciativas que promovam a cidadania no trânsito, a exemplo da Semana do Motociclista, que ocorre esta semana.
Parecer
Para dar início ao processo licitatório para escolha das novas empresas que instalarão e operacionalizarão os equipamentos de fiscalização eletrônica na capital, a Prefeitura de Aracaju aguarda o parecer final do Tribunal de Contas do Estado (TCE), responsável por analisar os contratos firmados pela SMTT com as empresas Eliseu Kopp e Splice.
Como as empresas estavam envolvidas em acusações de fraudes em outros estados, o prefeito Edvaldo Nogueira optou por cancelar os contratos e entregar toda a documentação ao Tribunal de Contas. Ao contrário do que foi observado em outras cidades, em Aracaju não foi identificada nenhuma irregularidade nas licitações.
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