No pronunciamento de ontem à noite, a presidente Dilma Rousseff fez uma defesa correta da necessidade de ajuste fiscal. Falou em sacrifício temporário, pediu paciência e alfinetou a imprensa. Disse que a crise não era tão grave como retratada e voltou a atribuir ao cenário externo a responsabilidade pelas dificuldades internas.
Um presidente deve transmitir otimismo, mas isso é diferente de dourar a pílula e de não reconhecer os próprios erros. O ajuste é importante sim, mas para corrigir equívocos que a presidente cometeu no primeiro mandato. Uma análise mais sincera talvez fosse mais efetiva.
Não há problema em criticar a imprensa. Mas é importante lembrar que a imprensa não inventou a Operação Lava Jato nem foi responsável pela estratégia equivocada de isolar o PMDB no governo. O governo deveria fazer uma autocrítica e se preparar melhor. Os serviços de inteligência não mapearam as convocações para o panelaço e o buzinaço de ontem. O Palácio do Planalto foi surpreendido.
As reações ao pronunciamento, com panelaço e buzinaço, sobretudo nas áreas nobres de algumas capitais, devem servir de alerta para o governo. Há uma piora no clima político em prejuízo de Dilma e do PT. Alguns xingamentos foram vergonhosos, ainda mais feitos no Dia Internacional da Mulher.
Uma parcela algo fascista da sociedade tem saído do armário com desenvoltura e agressividade. Existe um setor que não aceita o resultado das urnas e, como disse o economista Luiz Carlos Bresser Pereira, tem ódio ao PT pelas medidas boas que o partido adotou em defesa dos mais pobres.
Há setores dos protestos que têm desrespeito ao resultado eleitoral e desejam a saída da presidente Dilma do poder sem apego às regras institucionais e democráticas. No entanto, existem outros setores que protestam legitimamente contra a corrupção e contra o governo, dentro de limites civilizados e democráticos. Panelaço e buzinaço fazem parte da democracia.
Há uma parcela que votou em Dilma que está desapontada. Será um erro o governo achar, como fez na época da Copa do Mundo, que se trata de um protesto de uma minoria de maior renda e maior escolaridade anti-PT. A campanha eleitoral tão dividida mostrou que o PT perdeu base social, sobretudo na classe C. O Datafolha já mostrou queda da popularidade da presidente e do governo.
Nesta semana, haverá, na prática, dois protestos contra o governo. No dia 13, centrais sindicais e movimentos populares vão criticar medidas do ajuste. No dia 15, haverá um protesto contra o governo e a corrupção. Apesar da presença de neofascistas, mal-educados e golpistas, o panelaço e o buzinaço de domingo em cidades do país sinalizaram que os protestos do próximo domingo poderão ter uma força maior do que a imaginada pelo governo.
Fonte: Blog do Kennedy
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