Na bula, as indicações são claras: "fonte de vitaminas A, D e E para bovinos, equinos, suínos, ovinos, caprinos e coelhos". Apesar de ser de uso estritamente veterinário, o complexo vitamínico conhecido como A.D.E tem sido utilizado indevidamente por pessoas que desejam um desenvolvimento muscular rápido. Em todo o Brasil, o produto já ocasionou diversas mortes, algumas delas registradas aqui no estado.
Para alertar sobre os perigos do uso do A.D.E, em dezembro do ano passado, a seccional Sergipe do Conselho Regional de Educação Física, em parceria com o Ministério Público Estadual, Secretaria de Estado do Esporte e Lazer (Seel), representação estadual da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB/SE) e Vigilância Sanitária Municipal, lançou uma campanha para alertar sobre os riscos do uso do produto.
Cartazes com a frase 'A.D.E é uma furada' foram distribuídos em academias e escolas. Segundo Ana Angélica Costa, coordenadora da Vigilância Sanitária Municipal, a campanha tem como foco a conscientização dos profissionais de educação física e a população em geral. "Os pais também são muito importantes para o sucesso da campanha. Eles devem ficar atentos à academia que o filho frequenta. Deve ver se é um local licenciado pela Vigilância Sanitária e se há o acompanhamento de um profissional capacitado", destaca.
Efeitos
O A.D.E é uma substância oleosa de grande densidade aplicada através de seringas. O produto inflama o músculo, fazendo com que as fibras musculares envolvam a substância, aumentando o volume. Com o tempo, há um acúmulo no tecido muscular, podendo provocar necrose, deformidades e infecção generalizada. Caso a substância seja injetada em uma veia ou artéria, pode ocorrer parada cardíaca ou respiratória.
Cláudia de Souza, gerente de medicamentos da Vigilância Sanitária Municipal, explica que muita gente confunde o A.D.E com os anabolizantes. "Os anabolizantes são hormônios sintéticos, indicados para o tratamento de algumas patologias, como disfunções musculares ou problemas de crescimento. Já o A.D.E é um composto de vitaminas de uso animal, impróprio para o consumo humano", explica.
Enquanto os esteróides anabolizantes são rigidamente fiscalizados e vendidos apenas com receita médica, o A.D.E é facilmente encontrado em casas de produtos agrícolas, com preço acessível, em torno de R$ 26 o frasco com 50 ml. "Apesar de os anabolizantes também causarem graves danos à saúde, é muito mais difícil adquiri-los. A preocupação nesse momento é com o A.D.E, pois não há controle, e já foram registradas mortes aqui no estado em decorrência do seu uso", alerta Cláudia.
Felipe Dantas, gerente da loja de produtos agrícolas Agrovel, confirma que não há nenhum tipo de regulamentação para a comercialização do produto e que sempre há procura. Para tentar controlar a venda indiscriminada, o gerente passou a exigir a receita veterinária. "Essa foi uma iniciativa da empresa, uma tentativa de fazer a nossa parte. Nada impede que o indivíduo compre o produto para consumo próprio. Infelizmente isso é uma questão cultural, um caso de conscientização", opina.
Conscientização
É com esse objetivo que Jeferson Silva, proprietário da academia 'Jeferson Musculação e Fitness', realiza em média 30 palestras por ano, alertando o público dos perigos do uso desse tipo de produto. "Já vi alguns casos graves relacionados ao uso do A.D.E, alguns deles resultando em óbito", confirma.
"Agora é verão, a academia está lotada. Muita gente acha que até o carnaval vai ficar em forma, e não é assim", diz Jeferson, que é oito vezes campeão sergipano e vice-campeão brasileiro de fisiculturismo. "Os jovens estão querendo aumentar a massa muscular em pouco tempo. Isso não existe. Para ter um bom condicionamento físico é preciso uma boa alimentação, treinamento apropriado, e, em alguns casos, o uso de um suplemento alimentar", explica.
Para quem vai começar a treinar, Jeferson aponta que o primeiro passo é procurar um médico, fazer os exames necessários para ver se realmente está apto a fazer musculação e, se possível, consultar um nutricionista. "Para quem quer aumentar a massa muscular eu digo sempre: tenha paciência, de seis meses a um ano você terá um bom condicionamento físico", orienta.
Texto de Michel Oliveira
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