"Perdi o chão, tive medo, nojo. Me senti a pessoa mais vulnerável do mundo". O depoimento sincero é de uma mulher que prefere não ser identificada. Casada, sem filhos, 26 anos, K.S. mora no município de Japaratuba e viu a própria vida mudar em poucos minutos.
Numa conversa meio contida, a vítima do abuso sexual contou que estava dormindo quando, no meio da madrugada, foi surpreendida por um homem não identificado que tinha o rosto coberto apenas por uma camiseta de algodão. “Meu marido não estava em casa. O invasor aproveitou o momento, arrombou a porta, recolheu todos os pertences de valor como celulares, roupas e utensílios domésticos, e antes de ir embora ainda obrigou que eu fizesse sexo com ele”, desabafou.
O único lado positivo dessa triste história de agressão viria a seguir. Depois da sucessão de fatos, a sergipana buscou ajuda o mais rápido possível e o tempo se transformou em um grande aliado. “Antes mesmo do dia amanhecer, fui até a delegacia da cidade, fiz um boletim de ocorrência, passei por exames de corpo de delito no Instituto Médico Legal (IML) e hoje estou aqui na Maternidade Nossa Senhora de Lourdes (MNSL) completando três meses de tratamento”, relatou.
A Maternidade Nossa Senhora de Lourdes é considerada referência em Sergipe quando o assunto é atendimento às vítimas de violência sexual. O trabalho funciona através de uma rede integrada que presta assistência às pessoas de todas as idades, independente do sexo ou classe social, baseada nos direitos universais da população, como preconiza a Organização das Nações Unidas (ONU).
De acordo com a médica Patrícia Chaves, responsável pelo setor de atendimento, é importante que as vítimas de estupro procurem a unidade em até 72 horas após o crime para que seja iniciada imediatamente a prevenção de graves doenças infecciosas.“Assim que nossos pacientes chegam, solicitamos uma coleta de sangue com o objetivo de investigar Hepatite B, C e todas as DSTs. Essa etapa é de fundamental importância, pois mesmo sem a positividade do exame para a Aids, teremos condições eficazes de iniciar o tratamento com os medicamentos antiretrovirais para reduzir o risco de infecção por HIV”, explica.
A superintendente da MNSL, Carline Rabelo, explica que no caso específico de mulheres, a identificação de gravidez também é de extrema importância. “Caso uma gestação fruto do ato criminoso seja confirmada, a vítima do estupro tem o direito de interrompê-la. A medida é prevista em lei, no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS)”.
Fluxo
Nas situações que envolvem menores de idade , o fluxo de atendimento tem início no Conselho Tutelar, responsável pelo encaminhamento da criança para a Delegacia de Atendimento à Grupos Vulneráveis (DAGV), onde é prestada a queixa. Em seguida, a vítima vai ao Instituto Médico Legal (IML) para fazer o exame de corpo de delito e por último, chega ao serviço instalado na maternidade.
Na unidade de saúde, uma equipe multidisciplinar faz o acompanhamento dos pacientes durante a utilização dos devidos medicamentos de prevenção contra doenças sexualmente transmissíveis (DST's) e gravidez indesejada. O tratamento médico dura seis meses, enquanto o psicológico acontece por tempo indeterminado. Qualquer dúvida ou denúncia basta ligar para o disque-violência (79) 3225-8679.
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