O radialista Wilton Andrade, que teve o seu veículo incendiado num episódio ainda não esclarecido pela polícia, foi ouvido na manhã desta quinta-feira, 7, durante audiência da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa. Além do deputado estadual Venâncio Fonseca, que preside a comissão, o radialista foi ouvido pelos parlamentares Maria Mendonça, Antônio dos Santos e Zé Franco. O atentado aconteceu em Itaporanga D'Ajuda, no dia 17 de dezembro de 2010.
Segundo relato do radialista Wilton Andrade, na madrugada daquele dia foi surpreendido, em sua residência, com um incêndio em seu veículo, um Parati, que estava dentro da garagem. Para evitar que as chamas se propagassem, o carro foi empurrado para a rua, evitando o pior. Segundo ele, o carro explodiu logo após ser levado para fora da residência, onde estavam sua esposa e filhos.
Aos deputados, Wilton Andrade relaciona o atentado sofrido ao fato de denunciar supostos desmandos cometidos pelo prefeito de Itaporanga, César Mandarino, a quem dirigia críticas na rádio Millênius FM, emissora lacrada pela Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel). O radialista afirma que vinha sendo ameaçado e que alguns homens em motos dirigiram ameaças. Relatou ainda que a polícia não tomou nenhuma providência.
Após o episódio, o radialista afirma que passou a entrar em contato com a Secretaria Nacional de Direitos Humanos e que ouviu a recomendação de deixar o Estado. “Na véspera do Natal, pediram que eu saísse de Sergipe. Passei três meses em Brasília e a Secretaria de Segurança Pública (SSP) negou uma escolta para me proteger alegando falta de efetivo. A secretaria então acionou a Força de Segurança Nacional”.
Wilton Andrade afirma que hoje é escoltado por nove homens da Força Nacional. “Estou aqui (em Sergipe) desde o dia 19 de março. Procurei a SSP para saber como andava a investigação e me encaminharam ao delegado André Baronto. Ele disse que tudo está sob sigilo”, comentou. O radialista afirma ter sido procurado por um policial civil, que teria feito uma investigação paralela e constatado que o prefeito César Mandarino pediu a retirada do citado policial da delegacia do município.
“O policial civil me disse que foi feito um acordo numa churrascaria e que o atentado era para me queimar vivo, a mim e a minha família”, assegurou Wilton Andrade. Segundo ele, o policial civil seria ouvido pela coordenadora da Secretaria de Direitos Humanos, mas estranhamente não apareceu para prestar depoimento. “A coordenadora vai cobrar do secretário João Eloy providências. Estou preso, escoltado 24 horas, tenho tranquilidade, mas perdi minha privacidade e o bandido está solto”.
Na audiência, o radialista assegurou que está desempregado, com contas atrasadas e que não pode mais manter a esposa e os sete filhos. “Meu emprego era a emissora, que foi tirada do ar por motivos políticos. Lá denunciava a falta de remédios, falta de água na cidade e nos povoados e a má qualidade da merenda escolar”, disse Wilton Andrade, que se queixa do fato de ter ido a uma escola do município e o prefeito ter dado queixa na polícia acusando-o, e aos homens da Força Nacional, de terem causado transtornos aos estudantes. “Fui ver a merenda escolar, que por sinal era de boa qualidade. Serviam uma sopa”, observou.
O deputado estadual Antônio dos Santos disse que os fatos parecem estar próximos de serem elucidados. “Há uma testemunha que alega ter visto tudo, inclusive a negociação. Ele vai ser decisivo para tudo ser desvendado. Me causa estranheza o ser ter recebido ameaças e a polícia não ter prendido ninguém. Eles, provavelmente, são os responsáveis pelo atentado”, comentou o parlamentar, que sugeriu a ida dos membros da comissão à Secretaria de Segurança Pública pedir celeridade nas investigações.
“Falta o depoimento do policial civil para esclarecer esse caso. É complicado ter em casa uma equipe da Força Nacional, pois mesmo assim se perde a tranquilidade”, afirmou o deputado estadual Zé Franco, que destacou a existência de equipes de profissionais competentes na SSP. “Por isso acredito que vamos chegar a uma solução”.
A deputada estadual Maria Mendonça disse a situação é preocupante e que teme pelo estado emocional dos filhos e da esposa do radialista. “Falta Deus nos corações de pessoas que cometem atrocidades, pois só gente assim atenta contra a vida”. A deputada concorda com a proposta de ir ao secretário João Eloy e pedir pressa na investigação. “Vamos cobrar celeridade no processo e punição aos culpados, se alguém mandou ou praticou o crime”.
O presidente da Comissão de Direitos Humanos, Venâncio Fonseca, encerrou a audiência afirmando que estava acatada a sugestão do deputado Antônio dos Santos – apoiada por todos os membros, de ir ao secretário pedir pressa na investigação em torno do atentado sofrido pelo radialista Wilton Andrade. “Que o secretário escute nossa preocupação, pois não foi só um atentado contra o radialista e sua família, mas contra a democracia, contra a liberdade de expressão”
Venâncio disse que o país vive em pleno estado de direito e que existe respeito à voz do cidadão. O presidente da comissão citou como exemplo o fato das emissoras de rádio em Aracaju abrirem espaço, das 6 às 9 da manhã, à população. “Sua emissora de rádio prestava relevantes serviços à comunidade, fui entrevistado várias vezes. Fiquei triste com o fechamento da emissora e depois com o atentado que chocou Sergipe e teve repercussão nacional”.
Wilton Andrade disse que existem 'forças poderosas' que impedem a conclusão do inquérito e citou o caso do atentado contra o desembargador Luiz Mendonça, concluído, segundo ele, em cerca de 30 dias. “Meu caso dura quatro meses e nada. Talvez pese o fato de eu ser pobre”.
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