segunda-feira, 20 de julho de 2009

MULHERES SÃO RECRUTADAS PELO TRÁFICO.

Companheiros e namorados têm sido a porta de entrada de mulheres para o tráfico de drogas em Sergipe. Nos seis primeiros meses deste ano, quase 20% dos 88 traficantes presos pelo Departamento de Narcóticos (Denarc) da Polícia Civil eram mulheres. Entre as presas detidas nas carceragens da 2ª e 4ª Delegacias Metropolitanas esse percentual chega a 46%. Ou seja, das 48 presas, 22 são acusadas pelo crime de tráfico de drogas. Segundo o diretor do Denarc, o delegado Flávio Albuquerque, através de depoimentos prestados e prisões efetuadas se observa que em geral essas mulheres são levadas por seus companheiros a, inicialmente, tolerar e depois a se envolver com esta prática. “Sempre a gente associa a mulher traficante a um companheiro ou um familiar já envolvido com o tráfico”, disse.

Quando o companheiro traficante morre ou é preso elas continuam ou assumem o tráfico por vontade própria. Como aconteceu com Glenda da Silva Santos, 22 anos, presa pela Polícia Civil, quando comandava uma boca de fumo no bairro Coqueiral, zona norte de Aracaju. Ela assumiu o ponto de tráfico de drogas depois que o marido, o traficante Marcelo Soares da Silva, 27, foi preso, no dia 1º. Mesmo depois disso, ela continuou com o comércio ilegal no bairro, o que foi constatado por um policial disfarçado, que se passando por usuário comprou papelotes de maconha. Na casa, a polícia encontrou um quilo da droga e uma quantia em dinheiro. “Quem está no tráfico está por opção. Não tem como uma pessoa maior de idade e capaz se envolver e permanecer ingenuamente no tráfico”, ressaltou o delegado Flávio Albuquerque.

Além das mulheres que ingressam no tráfico para dar continuidade à prática dos companheiros, as investigações feitas pela polícia mostram também o envolvimento cada vez mais crescente de prostitutas no submundo das drogas, hoje especialmente do crack. De acordo com o diretor do Denarc, antes elas comercializavam apenas o corpo, mas agora estão atuando no tráfico, seja para sustentar o vício ou por entender que a venda de droga é mais lucrativa para elas.

Flávio Albuquerque explicou que na prostituição para algumas mulheres há uma certa dependência para com o cafetão, figura masculina que de certa forma as protege. “Ele, que anteriormente só cuidava do comércio da prostituição, agora também procura viciar esta mulher, que faz parte do seu ciclo de exploração sexual, para que aumente seu lucro e a dependência dela para com ele”, afirmou.

O delegado ressaltou que em Sergipe, no que se refere ao envolvimento de mulheres com o tráfico de drogas o que tem mais prevalecido são as companheiras de traficantes que concordam com a atividade e passam a se envolver e as prostitutas. “Temos mulheres que inicialmente conheceram e passaram a conviver com pessoas ligadas ao tráfico e com a prisão ou a morte ou até com a convivência passam a ser ativas no tráfico de drogas. Mas é pequeno o número de mulheres usuárias que traficam tão somente para manter o uso”, informou Albuquerque.

Número crescente

As constantes ações das polícias no combate ao tráfico de drogas no Estado têm revelado o crescente envolvimento de mulheres nesse tipo de crime. No Presídio Feminino, 90% das 103 internas respondem a processo ou já foram condenadas por tráfico de drogas. Segundo a diretora da unidade, Lílian Maria Batista de Melo, raras são as detentas presas por estelionato, roubo ou homicídio. “A grande maioria está presa mesmo por tráfico de drogas”, disse.

A diretora contou que normalmente as que traficam tentam continuar com a prática dentro da cadeia, para atender o consumo das usuárias. “Algumas tentam colocar a droga aqui dentro de qualquer jeito”, disse, acrescentando que a forma mais comum de a droga entrar é introduzida na genitália das visitantes. “Quando não há denúncia, não podemos fazer uma revista mais brusca e aí a droga acaba entrando”.

Há quase um ano reclusa no Presídio Feminino, Helenilza Santos, 37 anos, foi detida no momento em que traficava crack no Centro de Aracaju, na região conhecida como “Cracolândia”. A droga era comercializada para prostitutas e homossexuais que ficavam na área. A possibilidade de conseguir dinheiro mais fácil para sustentar os três filhos de cinco, 10 e 13 anos foi o que levou a faxineira para o tráfico. “O dinheiro que ganhava com as faxinas não dava para sobreviver e ainda tinha que pagar aluguel. Vi alguém traficando e vi que era uma maneira mais fácil de ganhar dinheiro. Só que do jeito que vem fácil vai fácil, porque nunca consegui juntar nada”, disse. Condenada a três anos de prisão, Helenilza garante que quando conseguir a liberdade nunca mais volta pra essa vida. “Não quero me envolver com isso nunca mais”, afirmou a detenta, que há dois meses trabalha como ajudante de cozinha no Presídio Feminino.

A dificuldade financeira em manter a família foi também o motivo alegado pela sul-mato-grossense Rosimar Paulino da Silva, 37 anos, para ingressar no mundo do tráfico. “Com o marido preso por roubo, a situação apertou e aí parti para o tráfico, o problema é que foi logo o tráfico internacional”, contou. Rosimar foi presa junto com a quadrilha flagrada traficando um quilo de pasta base de cocaína, acondicionadas em 84 (oitenta e quatro) cápsulas, ingeridas por um dos integrantes. A droga vinha da cidade de Pedro Juan Cabalero, no Paraguai, com destino a Aracaju.

Há dois meses e dois anos reclusa no Presídio Feminino, ela foi condenada a 14 anos e oito meses de prisão. “Quando você não acha um caminho, tem que conseguir algum. E naquele momento o tráfico parecia o melhor. Hoje eu sei que não é. Quando sair daqui espero mudar de vida e aproveitar as oportunidades que a sociedade me der. Mas às vezes dá medo”, disse.

Julgada e condenada a oito anos de prisão por tráfico de drogas, a detenta Marli de Assis, 42, se considera injustiçada. Ela conta que o Dia das Mães de 2008 nunca mais vai sair da sua cabeça. “Era uma tarde muito especial e estávamos numa festa na minha casa, em Propriá, quando chegou um rapaz que nunca tinha visto e pediu para guardar uma bolsa. Eu guardei e para minha surpresa, de repente chegou a polícia, começou a revistar, me espancou e encontrou a bolsa”, disse Marli. Na sacola, foram encontrados um revólver, cinco munições, uma pedra de crack, uma quantia em dinheiro e alguns celulares, que ela garante que não eram dela. Mesmo assim Marli afirma que nunca traficou. Do rapaz que lhe entregou a bolsa, ele conta que soube apenas, depois de muito tempo, que ele foi preso.

Família destruída pelas drogas

Condenada a nove anos e meio por tráfico de drogas, o marido preso, um bebê de dois meses para criar e uma filha de 14 anos vivendo nas ruas de Aracaju, afundada no consumo de crack. Assim se resume a vida de Amanda Silva, 30 anos, uma das 103 internas do Presídio Feminino de Aracaju. A família de Amanda começou a desmoronar depois que ela começou a vender maconha, no conjunto Padre Pedro, no bairro Santa Maria, em Aracaju, após seu marido, Douglas Silva, ser preso. Uma denúncia anônima levou a polícia a investigar as atividades de Amanda. “A polícia teve a informação que eu traficava para dentro do presídio onde meu marido estava preso, grampeou meu celular e acabou me prendendo”, contou.

Quando a polícia chegou à casa de Amanda, encontrou um quilo de maconha. Ela garante que não traficava para o presídio. “Vendia apenas no Padre Pedro, porque precisava manter minhas filhas”. No entanto, tanto ela e o companheiro foram condenados por tráfico. Ele foi sentenciado a 10 anos e quatro meses de prisão. “Ele seria solto no dia 11 de setembro, e eu fui presa no dia 20 de agosto, mas ele não tinha nada a ver com a droga”, defende.

Hoje, com um bebê de quase dois meses de vida, Amanda vê os dias passarem na cadeia e sua família se destruindo fora dela. A filha mais velha, de 14 anos, se revoltou depois que a mãe foi presa, passou a viver na rua e a se envolver com crack. “Ela era linda, tinha os cabelos loiros cacheados e os olhos azuis. Mas da última vez em que esteve aqui era pele e osso, a cabeça raspada, toda cheia de feridas, por conta do consumo de crack”, disse Amanda, acrescentando que a outra filha, de oito anos, vive com a avó materna.

Segundo Amanda, sua maior preocupação é com o futuro da filha mais velha. “Só peço a Deus que me dê logo a liberdade para cuidar de minha filha. Não quero nunca mais essa vida pra mim. Quando sair daqui não quero mais saber de tráfico, isso não é vida para ninguém”, afirmou. Ela aguarda a decisão do juiz da 7ª Vara Criminal quanto ao pedido de prisão domiciliar, para que ela possa cuidar da filha usuária de crack. “Mas do jeito que ela está tenho medo que antes de o juiz decidir chegue uma notícia pior”.

Numa das visitas da adolescente ao Presídio Feminino ela chegou a dizer à diretora que queria ser maior de idade para poder roubar, ser presa e ir viver com a mãe no presídio. “Me sinto culpada porque ela mesmo me disse que no começo [quando fui presa] foi muito ruim e por isso começou a viver na rua, convivendo com os usuários de crack. Só quero cuidar de minha filha”, declarou.

Família destruída

No final do mês passado, outro caso de tráfico de drogas chocou os sergipanos. Traficante e usuária de crack, Edla Sande Valquíria de Assis Santos, 44 anos, foi presa, no conjunto Marcos Freire III, no município de Nossa Senhora do Socorro, acusada de forçar os dois filhos, com idade de 11 e 14 anos, a traficar drogas. Poucos dias antes, o filho mais velho, com 16 anos, havia sido assassinado com nove tiros, dentro de casa, na presença dos irmãos.

A própria mãe disse às conselheiras tutelares, que tinham ido à residência levar as crianças para abrigar, que ninguém iria levar os seus filhos, pois eles eram seu ganha pão. Os adolescentes eram obrigados a vender e usar drogas. Edla já havia sido presa outras sete vezes. Em depoimento à polícia Edla informou que entrou para o mundo do tráfico de drogas há 20 anos, quando tinha 14, pelo marido Roberto dos Santos. Ele foi morto há cinco anos, em Belém (PA), provavelmente por dívidas de drogas. Crescendo em meio a esse mundo de criminalidade, os filhos desde cedo passaram a usar drogas, incentivados pelos pais. Os dois menores, depois que foram levados para abrigos, relataram que no dia da prisão da mãe eles estavam consumindo crack. Quando a polícia chegou, o mais velho engoliu a pedra que estava entre os lábios. Em outra oportunidade, quando da aproximação da polícia ele engoliu outra pedra de crack, mas para não perder a droga a mãe o obrigou a tomar um copo com água sanitária, para que vomitasse e ela pudesse fumar a droga.

Polícia fecha o cerco à venda de crack

As polícias Civil e Militar têm fechado o cerco ao tráfico de drogas em Sergipe, com atenção especial para o crack. O resultado desse trabalho são as constantes apreensões da droga. De janeiro a junho, o Departamento de Narcóticos (Denarc) da Polícia Civil apreendeu 5,6 quilos de crack. Já as apreensões realizadas pela Companhia de Radiopatrulha somente no mês de junho deste ano, superam todas do ano passado.

As estatísticas da RP apontam que no mês passado foram apreendidos 2,75kg de maconha, 428 papelotes de maconha, 117 pedras de crack e 180 gramas de crack. Segundo o comandante da Radiopatrulha, capitão Vitor Anderson Moraes, as ações de combate aos pontos de tráfico têm se intensificado e como consequência as apreensões têm aumentado.

No primeiro semestre, os policiais do Denarc prenderam 88 pessoas, uma média de 14 prisões por mês. Sessenta e cinco delas foram presas de janeiro a maio. Em junho, mês em que o departamento foi criado, foram efetuadas 23 prisões de traficantes. Ou seja, quase o dobro da média de 13 prisões que vinham sendo efetuadas.

Esta semana, uma parceria entre a Polícia Militar e a Polícia Civil foi firmada com o objetivo de otimizar o enfrentamento do tráfico de drogas no Estado. A ideia é facilitar a troca de informações entre as duas polícias e reunir as equipes do Batalhão de Polícia de Choque e do Denarc para realizar operações constantes em vários pontos do Estado.

Fonte: Jornal da Cidade

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