No Dia Mundial de Conscientização do Autismo, celebrado ontem (2), especialistas e organizações da sociedade civil alertaram os brasileiros para a necessidade do diagnóstico precoce.
O autismo é uma síndrome que afeta de maneira acentuada a capacidade do indivíduo de falar, comunicar-se e interagir com outras pessoas e com o ambiente. Estima-se que 2 milhões de brasileiros sejam autistas. Em todo o mundo, são cerca de 70 milhões de pessoas, de acordo com as Nações Unidas. O transtorno é mais comum em homens do que em mulheres.
Desinteresse pela convivência outras pessoas, pouco contato visual, fixação por objetos, não reagir quando é chamado por alguém ou recusar contato físico são alguns dos sinais do autismo, que aparecem, em sua maioria, antes dos 3 anos de idade.
“Aos 2 anos de idade, se a criança não consegue falar, não se interessa em brincar com outras crianças ou não pede colo é um sinal de alerta”, explica Marcos Mercadante, psiquiatra da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e um dos fundadores da organização não governamental Autismo e Realidade.
Até o momento, não há cura para o autismo, mas o tratamento, quando iniciado logo após o diagnóstico, aumenta as chances de a criança ter mais independência na vida adulta. No entanto, o psiquiatra lamenta que pais e até mesmo profissionais de saúde estejam despreparados para reconhecer os sintomas. “No Brasil, o diagnóstico ainda está sendo feito com 5 ou 6 anos [de idade]”, afirmou.
O tratamento não é o mesmo para todos os autistas, que podem apresentar grau leve ou severo (quando compromete mais o indivíduo), mas se baseia em terapias comportamentais e médicas com o objetivo de estimular o indivíduo a se socializar e ter qualidade de vida.
Mãe de um autista, a engenheira Ana Maria Mello uniu-se a outros pais para fundar a Associação de Amigos do Autista (Ama), em 1983, uma das principais organizações civis do país, com sede em São Paulo, que auxilia pais e pessoas com o transtorno de desenvolvimento. Ana Maria incentiva os pais a buscar informação para que saibam entender os filhos. “A gente chora bastante, mas, depois, bola para a frente, sem sentimento de culpa ou pena”, disse.
A educação tem também um papel fundamental para que o autista possa ter melhor convivência no ambiente onde vive. Especialistas defendem que a escola deve ter uma abordagem específica para lidar com essas crianças e reclamam da falta de instituições adequadas.
No Distrito Federal, o Centro de Ensino Especial 2, da rede pública, é adaptado para receber alunos autistas com grau leve ou severo. No centro, os professores usam brinquedos, figuras e alternativas de comunicação para estabelecer uma rotina de atividades comuns à vida de qualquer pessoa, como comer ou ir ao banheiro. “Elas aprendem a se vestir, calçar os sapatos, conviver com outras crianças lá fora. É uma forma de ajudar a socializar a criança”, explica a supervisora pedagógica Marli de Jesus Silva.
Atualmente, o centro tem cerca de 30 alunos autistas, de 5 a 15 anos. Um deles é a pequena Maria Alice, de seis anos de idade. Há poucos meses na escola, a menina já faz trabalhos com colagem e tem menos crises de choro e agitação, características do autismo. “No período em que ficava só em casa, ela era muito agitada e ficava girando em círculos. Agora, ela dorme e se alimenta melhor, além de gostar da escola”, conta Luciana da Silva, mãe de Maria Alice e mais três filhos. “Os pais não precisam isolar os filhos. Ela não olha para mim, mas eu olho para ela”, relata Luciana.
Fonte: Agência Brasil (Carolina Pimentel)
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