sexta-feira, 15 de junho de 2012

AIDS VIROU DOENÇA DA FAMÍLIA, ALERTA ALMIR SANTANA NA ASSEMBLÉIA.

O coordenador do Departamento de Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST/Aids), médico Almir Santana, disse hoje aos deputados estaduais que a Aids, embora sob controle em Sergipe, deixou de ser uma doença que afetava homossexuais e passou a ser uma doença da família. “A epidemia está cada vez mais com a cara do sexo feminino. A Aids virou uma doença da família, não é mais uma epidemia dos homossexuais”, comentou.

Segundo o médico, a Aids completou 31 anos no mundo. A epidemia, em Sergipe, tem 25 anos. “Começou em 1987 quando tivemos o primeiro caso no Estado. Um morador de Itabaiana que morava em São Paulo”, explicou. Segundo ele, Sergipe possui 2.989 casos. “Foram 960 mortes até agora, com vítimas na faixa etária de 20 a 49 anos, faixa etária de quem está sexualmente ativo”.

Almir Santana disse que no início era uma média de dois homens para uma mulher infectados. A proporção mudou e atualmente e passou a ser de 16 homens para uma mulher. “Em Sergipe temos 90 crianças com Aids. A doença avançou mais em Aracaju, Socorro, Itabaiana, Campo do Brito, Lagarto, Propriá, Barra dos Coqueiros, São Cristóvão e Estância. Em cidades como Cumbe, a Aids está se espalhando. Tenho uma paciente que tem oito filhos, dois deles infectados, e o marido morreu”, comentou.

“Ninguém morre de Aids, morre com as doenças que a Aids traz, como pneumonia e tuberculose. E 90% dos casos de transmissão de Aids se dá pela relação sexual, por isso destaco tanto a prevenção, o uso de camisinha. A segunda causa de transmissão são as drogas. E temos a transmissão da mãe para o filho”, disse Almir Santana, durante a palestra. De acordo com o coordenador do DST/Aids, a área de saúde de Sergipe está vencendo a doença nesta área, porque os casos de transmissão pelo leite materno estão caindo.

O médico causou preocupação ao afirmar que os idosos, por causa da retomada da atividade sexual com o uso de medicamentos, passou a ser vítima de Aids. Almir Santana declarou aos parlamentares, e ao público que lotou as galerias, que a doença deixa o paciente com um quadro de muita debilitação. Ele disse que o ideal é que o diagnóstico seja feito antes do estágio avançado da doença. “A atenção básica está falhando, faltam médicos no programa Saúde da Família. Temos soropositivos em que o vírus ainda não se manifestou. Devemos ter cerca de duas mil pessoas assim em Sergipe”.

Almir Santana lamentou que ainda exista preconceito contra o soropositivo. Segundo ele, a doença não se transmite pelo beijo. “A Aids tem tratamento, isso é uma vitória. Temos em Sergipe todos os medicamentos oferecidos no mundo, são 21 remédios. Um paciente antes tinha um ano de vida. Hoje um paciente tem uma qualidade de vida que não tinha”, destacou. O médico disse que não existe passe livre para o soropositivo em Aracaju. “Já tentei na Câmara Municipal e nunca obtive êxito. Alguns pacientes não têm recursos nem mesmo para pegar um ônibus para apanhar o remédio. Não existe passe livre no transporte estadual e isso ajudaria”.

“Precisamos de recursos para duas casas de apoio em Aracaju. E não temos uma lei que criminalize os atos de discriminação contra o soropositivo. Há uma lei nacional que trata disso. Tivemos até casos de concursos públicos que exigiam teste de Aids”, disse Almir, que lamentou ainda o fato do Estado pagar remuneração inadequada. “Os baixos salários atrapalham, não conseguimos ampliar a equipe que atua no combate e prevenção à Aids. Precisamos de médicos”.

O coordenador do DST/Aids encerrou a palestra afirmando que os casos de sífilis estão aumentando. “Essa doença mata. Sergipe implantou um programa que está dando bons resultados”. O médico disse ainda que o governo doa cestas básicas aos pacientes soropositivos e que Sergipe é referência nacional no tratamento contra a Aids. Lamentou, entretanto, que o preconceito permanece. “Fui vítima de preconceito, diziam que eu era o médico dos homossexuais, que era o doutor da Aids”.

A presidente da Assembleia Legislativa, deputada estadual Angélica Guimarães, disse que a rede pública precisa oferecer a vacina contra o HPV, que está disponível apenas na rede privada. “Porque possui um custo alto, em torno de R$ 1 mil cada dose, difícil de ser adquirida pelas classes baixas”, comentou. A parlamentar disse que Almir Santana podia contar com o apoio da Assembleia e que estava colocando a TV Alese à disposição das campanhas educativas.

“A programação da TV Alese está aberta para levar a conscientização à população. E é preciso fazer um trabalho de massificação do teste rápido. Quando me formei, há 29 anos, se solicitava apenas quatro exames. Hoje uma gestante faz cerca de 20 a 30 exames. E não há preocupação com a Aids e com a Sífilis”, observou Angélica. A deputada disse que um problema grave é o fato de alguns municípios não possuírem laboratórios e os exames seguirem para Aracaju. “E aqui enfrentam uma fila enorme. Quando o exame retorna, o bebê já nasceu, a mãe amamentou e contaminou a criança”.

O deputado estadual Garibalde Mendonça disse que é preciso que se crie um projeto de lei que auxilie e proteja os pacientes soropositivos e que garanta a propagação do trabalho nas emissoras de rádio. O parlamentar elogiou o trabalho de Almir Santana em salvar vidas. O deputado estadual Gilson Andrade disse que Sergipe se orgulha em ter um médico como Almir Santana à frente desse trabalho. Ele disse que as mulheres grávidas precisam ter atenção com a doença. “Hoje não se concebe que uma gestante passe nove meses da gravidez e não tenha acesso ao exame de HIV. O exame é acessível e o diagnóstico é rápido. Lamento que muitas mulheres não façam ou não tenham acesso ao exame”.

Para a deputada estadual Ana Lucia, o Estado deveria oferecer uma compensação ao profissional que atua na área de prevenção e tratamento de soropositivos. “O salário base desse homem que se dedica a esse trabalho é de cerca de R$ 800. Todos os profissionais dessa área precisam ter uma vida melhor. Lidam com o preconceito”, argumentou a deputada, lembrando que outros médicos da fundação têm salários bem mais vantajosos. A deputada disse que o passe livre poderia ser encaminhado pelo DST/Aids e assegurou que a Assembleia vai apoiar a proposta.

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